sexta-feira, 29 de março de 2013

You never asked me to stay (*)


Fica, dizia ele com uma voz trémula. Queria chorar, mas não sabia. Naquele momento, não sabia nada de nada e sentia que nada fazia sentido. A sua cabeça não fazia sentido. Os seus pensamentos, muito menos... E a realidade afigurava-se a uma onda de acontecimentos que rebentaram, repentinos, sem que os esperasse. A namorada estava à sua frente, com o rosto lavado em lágrimas, e com um olhar que ele nunca lhe tinha visto. Mágoa, desilusão, infelicidade. Descrença, sobretudo. Como seria possível, se ambos tinham plena consciência desse amor puro e louco que os unia? Sentia o peso do silêncio e só a viu, mecanicamente, a pegar na mala e a afastar-se, até a perder de vista no corredor. Ouviu a porta, devagar. Perguntou-se como poderia ela bater a porta devagar, naquele estado. Como iria ela até casa? Descontrolada como estava, seria inseguro pegar no carro. Ainda assim, deveria ser a maneira pela qual optaria. Se bem a conhecia, depois de tanto tempo e entrega, ela simplesmente detestava que a vissem vulnerável. Nem sequer gostava de expressar os seus sentimentos em público. Excepto daquela vez em que... O seu cérebro tentou focar-se no que acabara de acontecer. Que tinha ele feito de errado? Até lhe pedira para ficar... Só então se apercebeu que, durante muito tempo, só ouvira silêncio. Sim, "ouvira" silêncio. Era tão pesado que se tornara audível. As primeiras (e talvez únicas) lágrimas caíram assim que percebeu que lhe tinha faltado a coragem para lhe pedir para ficar. Após as palavras magoadas dela, de como ele não queria - nunca queria - saber, apenas tinha mostrado que a sua namorada tinha razão. Não é que se tivesse desinteressado dela, mas na sua cabeça, o que fazia, chegava-lhe. Por amor de Deus, claro que chegava! Amava-a e mostrava-lho do modo que melhor sabia. Contudo, duvidava que ela ainda acreditasse nisso, depois da demonstração do quão mal se sentia com a relação. Devia tê-la abraçado, afagado os cabelos e ter ficado com ela, até que tudo ficasse bem e ela percebesse que as coisas não tinham mudado, como ela pensava. O pior de tudo é que acabou por nunca lhe pedir para ficar...

(*) em Eat Pray Love

2 comentários:

Bad disse...

Hoje vai dar este filme na SIC (se não me engano).

C. disse...

muito bonito.....